domingo, 10 de julho de 2016

O dia em que o relógio parou

Eles crescem à medida que o tempo passa. Duplamente orgulhosa, depois do nervoso miudinho de quem nada receia e tudo espera, a vontade crescente de que o relógio pare e eu, finalmente, possa respirar de alívio. 
Adiei por uns breves meses esta maratona contra o tempo. Vou vê-lo correr mas por breves instantes pouco me importa que corra depressa demais e me faça uma finta desonesta! 
O palco começa a tomar forma. Vejo-os entrar e a cada passo que dão sinto que cresceram, que são cada vez menos meus e mais do mundo!
Foi um ano difícil, para eles, para mim, demasiado! Ritmado por correrias contra o tempo, na tentativa frustrada de conseguir o impossível ou ter que viver algumas vezes um sentimento frustrado de falhanço. 
O relógio foi sempre o nosso pior inimigo. Constantemente vencida por filas de trânsito em hora de ponta, senti-me muitas vezes perto do limite. Pessoas especiais foram muitas vezes a minha única chance. A essas sei que não devo nada, nem um simples obrigada. Fizeram-no por mim, por um amor que não se explica por palavras que se sente de forma naturalmente bela, desprovido de vaidades e boas maneiras.
Em cada audição, concerto ou elogio senti que parte de mim também conseguiu. E foi duro! Contrariar a vossa vontade de desistir e a minha vontade de apagar e fazer reset, de apenas esperar pelo amanhã, por um novo dia.
Conseguiram meus queridos filhos! Ultrapassaram desafios, venceram medos e alcançaram conquistas e, hoje, de olhos emocionados de orgulho, deixei que o tempo parasse! O único tic-tac que se ouvia, desenfreado e nervoso, e que ecoava ao som dos vossos violinos, foi o do meu coração que bateu forte de emoção e orgulho. 
As borboletas alojadas na minha barriga voaram bem alto e serpentearam as paredes deste auditório onde me sinto em casa. Nunca o vi tão brilhante, tão colorido! 
Agora todas as vezes que nele entrar, de sabrina ou salto alto agulha, na descontração de um festa de natal repleta de sorrisos meninos ou no peso protocolar de um qualquer cortejo académico, um pedaço de vós vai estar aqui comigo, capaz de lembrar-me que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".