domingo, 8 de março de 2015

Mãe, perfeitamente imperfeita

Posso não ser a mãe mais bonita do mundo - não tenho uma cabeleira longa e farta, uns lábios carnudos e de um escarlate sexy, não tenho as unhas sempre impecáveis dignas de me permitir calar a boca e falar apenas por gestos.
Posso não ser a mãe mais fashion de entre as mães que vão buscar as suas filhas à escolinha ao final do dia (aliás, deve ser até das mais engrenhadas porque não ando, corro, numa tentativa sempre frustrada de não deixar que o relógio passe muito para além das 6 da tarde. E correr de stilleto, convenhamos, não é propriamente a coisa mais fácil do mundo, por isso prefiro uma bota rasa ou um sapato de tacão que aguente).
Posso não ter os olhos mais lindos do mundo - castanhos escuros, pestanudos, desenhados a pincel ponta de agulha - os meus são até bastante banais - castanhos amêndoa, descaídos e com umas pestaninhas pouco fartas e volumosas (vai-me valendo a descoberta nº 1 dos rímeis que por aí andam).
Posso pouco perceber de música e não saber tocar nenhum instrumento de cordas na perfeição, como posso não saber a letra de todas as canções do Panda.
Posso não ser calma e ponderada - sei que falo alto demais, berro demais, stresso demais, estou sempre cansada demais.
Posso nem sempre ter a resposta certa para todas as vossas dúvidas, não ser um ás a matemática, não saber de cor e salteado todas as regras gramaticais e desconhecer por completo qual a capital do Sri Lanka sem recorrer à wikipédia.
Posso não ser a mãe que mais participa nas atividades da escolinha e a que faz os bolos mais perfeitos e bem decorados do mundo. Provavelmente lembrar-se-ão de mim porque já esqueci o fato do ballet ou equipamento de futebol na vossa mochila mais vezes do que gostaria ou porque repeti o lanche dois ou três dias seguidos e a menina não aguenta comer mais pão com fiambre. 
Posso não saber beber ou comer um sorvete sem me sujar, nunca encontrar nada na minha carteira (e quase sentar-me no chão de cabeça enfiada a procurar uma coisa qualquer, no meio de tantas coisas sem significado), posso conversar demais e preocupar-me demasiado com a vida dos outros, posso não gostar de ir ao médico e alimentar-me pouco.
Porém filhos, apesar de todas as qualidades que a vossa mãe imperfeita não tem, sei que um dia irão fechar os olhos e sentir a maciez da minha mão que segurou a vossa, todos os dias no regresso a casa, depois de um dia de escola exaustivo. Sei que escutarão a minha voz cantando, enquanto um Manel joga à bola ou um João choraminga por um balão que sob pelo ar. Sei que um dia, lembrarão o cheiro e o liso dos meus cabelos, estes onde todos os dias, a todas as horas o mais pequeno de vós encontra o conforto para adormecer. Sei que lembrarão os disparates e as injustiças, mas também os beijos mais repenicados, simples mas sentidos, os mais sinceros e sem artifícios beijos que já alguma vez receberam. Sei que com saudade sentirão a falta destas mãos, que com unhas quebradiças e de um nude quase imperceptível, tantas vezes vos acariciaram a cabeça quando o João Pestana começava a pesar os vossos ternos olhos. Sei que notarão a nostalgia de cruzar estes olhos, pestanudos com Benefit ou de um escarlate sanguinário pela minha renite alérgica, mas que vos admiram com um amor imenso, maior que todo e qualquer outro, os mesmos que não vos perdem de vista nem por um segundo quando, inevitavelmente, sou obrigada a ir para a confusão de um qualquer shopping, a um domingo de manhã. 
Posso não ser realmente a mãe perfeita, que um dia os vossos perfeitos e ingénuos olhos escolheram, mas sabem filhos - minha adora M. e meu pequeno amor J. - esta mãe imperfeita, com tantos defeitos e tão poucas virtudes, fará sempre o possível e o impossível para merecer a perfeição do vosso eterno amor e fazer-vos viver melhor. Este meu cansaço diário é resultado de um esforço no sentido de que todos os dias da minha vida sejam para aproveitar cada momento da vossa vida. Quero esquecer a roupa a pedir ferro no estendal e apreciar a cambalhota do J. pequenino que ensinado pela irmã a faz tão bem. Quero lembrar como se anda de bicicleta e passear convosco aos domingos à tarde apreciando as vozes que gritam entusiasticamente "Mais rápido, mãe! Anda... mais rápido!".
Quero deixar de lado o ipad e voltar ao velho hábito de adormecermos com uma história encantadora que vos faz ter sonhos cor-de-rosa todas as noites. E deitar-me de barriga para baixo na vossa cama enquanto assistimos a um clássico da Disney juntos. 
Quero ser parte ativa das vossas preocupações e inseguranças mas também desta vida barulhenta e imprevisível que tenho deste que vocês dela fazem parte, saboreando cada momento, sem culpas, sem arrependimentos... certa de que não sou "uma super-heroína" mas de que me supero todos os dias.

Sem comentários:

Enviar um comentário