quinta-feira, 26 de março de 2015

Contado ninguém acredita!

Hoje aconteceu-me a coisa mais estranha de que me lembro!
Escrevo-o aqui e arrepiam-se os poucos pêlos claros dos meus braços... sinto um aperto no peito que me põe de lágrimas nos olhos... e, por vezes, penso se tudo não terá passado de um episódio inacreditável. Se me contassem dificilmente acreditaria que coincidências tão grandes pudessem realmente acontecer.
Um episódio inacreditável aconteceu hoje nas nossas vidas e confesso que o escrevo para jamais dele me esquecer... escrevo-o para que também vocês, meus filhos, um dia possam lê-lo e relê-lo e buscar aqui um pouco de esperança, que este seja para vós um sinal de que algo existe para além de nós, da nossa vontade, do que nos é expectável...
Não sei se foi um sinal, ou apenas uma coincidência gigante, mas hoje, três anos depois de tu "meu raio de luz" nasceres na minha vida, um raio de esperança reacendeu o meu coração e, fez-me acreditar mais do que nunca, que uma presença de esperança e amor existe nas nossas vidas.
A semana passada, enquanto preparava a tua festa de aniversário J. tive uma ideia magnífica. Senti que devia no dia do teu aniversário proporcionar um momento breve de felicidade não apenas a ti mas a algum menino que como tu tivesse nascido nesse dia e que mais do que nunca precisasse de um mimo especial. Queria conhecer um menino que como tu tivesse nascido a 26 de março.
Com a ligação forte que criei com o Projeto O Joãozinho confesso que logo pensei em contactar a minha querida amiga Ana e pedir-lhe ajuda. Hesitei a princípio, confesso! Primeiro porque tinha consciência de que o que procurava era uma agulha no palheiro e depois porque receava o turbulhar de emoções que do meu desejo pudesse advir. 
Costumo dizer que tenho uma estrela bem forte lá em cima a cuidar de mim... digo-o por vezes a brincar, mas hoje digo-o convictamente e certa de que ela realmente existe.
Na sexta-feira da semana passada contactei a Ana, que gentilmente acedeu ao meu pedido, salvaguardando, no entanto, que poderia ser difícil conseguir a sua concretização. Terça-feira liga-me e, ela própria um pouco incrédula, informa-me que tinha dado entrada no Hospital Pediátrico um menino de sete anos que dia 26 de março faria 8 anos de idade. Um menino também do Norte do país que infelizmente iríamos conhecer não pelos melhores motivos e cuja mãe estaria, com certeza, de coração apertadinho rezando para que o seu filhote rapidamente volte para casa. 
Confesso que já não esperava aquele telefonema... no meu coração instalou-se uma emoção e alegria enormes mas também uma dúvida crescente. O meu coração pedia-me este gesto mas a minha cabeça recuava com incertezas. Cheguei a casa e informei os meus pequenos do meu propósito... ficaram super entusiasmados e hoje lá fomos. Depois de uma longa sesta do J. (que quase nos fez desistir) lá fomos nós - eu, a M. e o próprio J. - conhecer o menino que também estava de parabéns. Os meus filhos estiveram sempre entusiasmados. O J. já dizia que ia conhecer um amigo e a M. queria muito conhecer a casa do Joãozinho... durante a nossa curta viagem até ao HSJ muitas foram as perguntas e tão poucas as respostas. Nem eu sabia bem o que lá ia fazer, apenas uma vontade ao meu coração. Connosco levamos presentes nas mãos e um carinho e uma bondade enorme no coração. 
Eu própria, ali, naquele hospital do Porto tinha recebido um presente há 3 anos. Haveria melhor forma de agradecer esta benção?!
Mas o inacreditável ainda estaria para acontecer! Chegamos e fomos muito bem recebidos... rapidamente percebemos que naquela casa cheia de amor para além do Joãozinho que lhe dá nome, e do meu próprio, um outro João se juntaria a nós - o menino que ali estávamos para visitar... Que feliz coincidência! Um Joãozinho que há oito anos atrás encheu o coração de uma mãe de alegria, tal qual aconteceu comigo neste dia há 3 anos. Mas, coincidência maior estaria para vir. Este João, de boné na cabeça e livro do Luís Figo na mão, também tinha um segundo nome igualzinho ao do meu J. Não consegui evitar a surpresa! Fiquei emocionada e feliz por termos conseguido ali estar. Olhando ali o pequeno e regula João, com um cateter na mão e tantas incertezas nos olhos, e tantos outros "joões, franciscos, pedros..." deitados naquelas camas, vi o quão felizarda sou. Um menino de apenas 8 anos obrigado a deixar a sua casa e festejar o seu oitavo aniversário longe dos abraços da família, das risadas dos amigos. Ele que com certeza gostaria de estar a correr no jardim e a marcar muitos golos, tal qual o meu J., com os olhos brilhantes de sonhos e uma cabecinha cheia de vontades. 
Claro que a mãe do reguila João primeiro estranhou a nossa presença. Pudera coitada, não nos conhecia de lado nenhum! Percebendo o que me motivava foi amorosa em receber-nos e foi com emoção que nos recebeu.
As emoções cresciam à medida que íamos falando... Houve momentos em que as minhas pernas tremeram, em que receei a forma como podia ser recebida, em que tive dúvidas se os meus filhos compreenderiam o propósito da minha iniciativa, em que questionei se fria sentido invadir um momento tão intimo de uma família desconhecida... hoje fico feliz por tê-lo feito! Os meus filhos compreenderam que não são únicos no mundo, que este dia é deles mas também de outros meninos como eles, que infelizmente muitos desses meninos não esperam presentes mas mimo, meninos que no dia do seu aniversário não vestem roupa nova, não sopram velas nem estão em casa a preparar uma festa com balões e foguetes... 
Fi-lo de coração aberto e com humildade. Quis que tu meu bebé mimalho presenteasses e não fosse apenas presenteado, que percebesses que é tão bom dar como receber e que este dia não se enfeita de cor e alegria para todos os meninos. Sei que provavelmente és pequeno demais para perceber a grandeza do nosso gesto, mas a minha esperança é de que um dia percebas meu anjo, o menino abençoado que és e a mãe abençoada que todos os dias me fazes.
O reguila João tem uma irmã de 4 anos e é verdade tem o mesmo nome que a minha filha (primeiro e segundo nome)! Mais uma coincidência inexplicável!
Tentei perceber melhor o que tinha levado o reguila João, adepto do FCPorto e uma fã do Luís Figo, à casa do Joãozinho e percebi que aquela mãe tem motivos para tanta humildade. O seu olhar é carregado de esperança, angústia e fala o que a sua boca é obrigada a calar. 
Felicidades pequeno João, estou certa de que na tua longa vida irás marcar muitos golos de vitória. Até à próxima.

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