segunda-feira, 10 de março de 2014

Carta aberta aos meus filhos #parte1

Querida M e querido J,
hoje olho para mim com especial tristeza. 
Não posso culpar a chuva ou o dia cinzento lá fora. O dia está solarengo e quente e até acordei bem disposta. Foi bom o fim-de-semana, soube a pouco, queríamos mais! Aproveitamos a três o melhor dos três, o melhor do tempo, o melhor do sol...
Não posso culpar o gato, o cão, o piriquito... não vivo em nenhum jardim zoológico e rapidamente não teria espécie animal que justificasse este mau humor injustificável.
Não posso culpar o pai J... ele está longe, a trabalhar... não seria justo!
Não posso culpar ninguém a não ser a mim própria, porque a culpa não pode morrer solteira. Não seria justo culpar quem viveu menos que eu e tem uma vida longa de aprendizagem (em que eu não posso ser figurante).
E por isso... decidi escrever-vos! A vós meus amores preciosos, minhas obras primas - minha bailarina guerreira e meu principezinho dengoso.
Esta é uma carta aberta - para mim para que em dias com o de hoje, a possa ler e reler e aqui encontre o conforto para mim própria, no amor que por vós sinto; para ti M e J, para que, um dia, quando já crescidos, possam ler qui ça entender apenas algumas coisas. Uma carta de mãe, que fala de um amor sem uma cor, sem um tamanho específico, sem um sabor particular... um amor que tem uma palete infinita de cores, tem formas variadas, tem tamanhos de escala e mais de mil sabores. Tenho ainda a esperança de que a guardem e, um dia, quando para vós a palavra mãe e pai tiver um significado ainda maior, a possam não apenas entender mas também sentir e, nesse dia, se lembrem da vossa mãe que todos os dias da sua vida, e não apenas num horário definido, sempre vos carregou no coração.
Escrever as primeiras linhas, foi ainda mais difícil do que imaginei, e acabei por começar de uma forma inesperada, que não planeei e está longe de estar literalmente perfeita. Afinal, há tanto coisa a dizer meus queridos! O meu amor por vós é tão grande, tão difícil de descrever que o branco imaculado de qualquer página o torna inexplicável e assustador. E, apesar de puder cair no ridículo e na banalidade, decidi não desistir e fazer como tantas vezes faço (para bem e para o mal) deixar-me guiar pelo coração. 
Falar de um amor tão sincero, que me extravaza, que me faz rir e chorar tantas vezes, que me faz melhor ser humano, não pode ser assim tão difícil, pelo contrário, devia ser fácil! Devo sim escrever sem parar! Escrever sobre sorrisos de dentes de leite e gargalhadas sonoras, abraços apertados e mimos de mãos pequeninas, beijos de bocas gulosas e olhares derretidos... Que engano! Falar deste amor não pode, não deve, é impensável que seja assim tão difícil!

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