quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Outono, outoneiro

Aí está ele... a espreitar quase amedrontado, dando o ar da sua graça, diminuindo aos dias vagarosamente e aumentando às noites descaradamente.
Se por um lado o recebo com um sorriso, por outro confesso a nostalgia do seu regresso.
Outono melancólico, das primeiras chuvas, chuviscos e chuvas serenas. De dias de luz e calor que nos confortam como um abraço quente de amigo... para trás ficam as risadas na praia, o sabor refrescante de uma cidra num dia de insuportável calor, as roupas leves e coloridas sob uma pele que se mostra hidratada e bronzeada, o dolce fare niente... 
Ainda assim, cativa-me o teu gosto especial a compotas, doces e marmeladas acabadinhas de fazer e uma colher de pau que lambuza uma boca gulosa cá de casa; o teu cheiro a vindima, a uva e vinho doce, daquele que deixa um bigode púrpura de espuma; o teu som de castanha assada a tripidar, da cantoria e do calcar da espiga de milho em plena desfolhada.
Graças a ti espreito pela janela. Deve ser das poucas alturas do ano em que o faço! Vejo a rua coberta de folhas, coloridas e secas; as crianças de galochas que brincam nas poças da água das primeiras chuvas e os primeiros guarda-chuvas coloridos que se abrem a um céu ora cinzento ora preenchido por um imponente arco-íris.
Aqui em casa habitualmente reunimos mais à volta da mesa, os serões em frente à lareira são frequentes e o dormir com uma mantinha no sofá é dos nossos passatempos preferidos.
As sestas prolongam-se.
As idas ao cinema ou as sessões de cinema cá em casa com tias e avós são regulares. 
Será assim o meu Outono deste ano?! Confesso que o vislumbro mais melancólico do que nunca, mais de sofá e sestas e menos de serões com amigos. O seu odor sabe-me a esturro e o seu murmúrio é nostálgico como nunca o senti... toca-me na alma, ao de leve, numa tentativa frustrada de não me maçar demasiado.
Estou tentada em ficar em modo de "invernar" e acordar após esta caminhada menos ensolarada. Sei que não o posso fazer menos ainda o devo.
Mente alerta, coração esperançoso, sorriso sincero nos lábios... por mim... pelos meus filhos... por todos!
Venha o cair da folha e a chuva miudinha que molha apenas as cabeças tolas... tentarei proteger a minha!

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