Hoje foi o último dia de escolinha da M.
Em Setembro uma nova fase nas nossas vidas irá iniciar-se, e se
por um lado me orgulho da filha “madura para idade” que tenho, por outro olho
de esguelha, com ar desconfiado e de repúdio, toda esta maturidade (por vezes
nada própria da idade) pois faz-me perceber que “a minha bebé está crescida!”.
Enfim, para não variar, sou mais uma vez, uma mãe onde habita a dualidade de
sentimentos que jamais algum pai irá entender!
Observo a minha filha todos os dias - a dormir que é quando
atinge a plenitude de perfeição. Admiro cada traço do seu rosto e cada pequeno
detalhe do seu corpo. Gravo na minha mente o contorno perfeito dos lábios, as
faces redondas e coradas de Branca de Neve apesar da sua tez Pocahontas, os
seus olhos rasgados de pestanas grandes e enroladas que emergem em qualquer
reino encantado de princesas-bailarinas, os seus cabelos encaracolados sobre um
pescoço que transpira, o sobe e desce do seu peito tão frágil que esconde um
coração de menina onde habita a ternura e a inocência, e ainda os pequenos
detalhes do seu corpo que a tornam única e minha.
E se nela reconheço a aluna ideal que a educadora vê – bem
comportada, meiga, disciplinada, educada, trabalhadora, perfeccionista e com
sede de aprender -, vejo também a minha eterna bebé (com certeza “a filha que
qualquer mãe sonha ter”) que ainda reclama o colo de mãe quando o Zé Pestana
insiste em chegar, que corre para os meus braços quando é ferida no corpo, na
alma ou no orgulho, que adormece ao som da minha voz que relata uma ladainha
inventada que aos ouvidos dela soa a história com princípio, meio e fim (de um
João menino que se perde na floresta ou de um Pedrinho que cuida de animais
numa quinta e planta um feijão mágico), que me olha com amor incondicional que
vejo refletido nos meus olhos todos os minutos da minha vida.
Não receio
envelhecer pelos cabelos brancos, pelas rugas no rosto ou pela flacidez do
corpo mas antes porque a cada dia que envelheço a minha filha cresce! Sinto que
se aproxima, numa cavalgada demasiado rápida, o tempo em que o meu colo deixará
de ser o seu abrigo e as minhas faces o seu consolo. Nessa altura, estou certa,
adotarei uma ladainha que a minha mãe com certeza já cantou e a mãe da minha
mãe… e a mãe da mãe da minha mãe: “ó tempo volta pra trás…”
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